sábado, 22 de setembro de 2007

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Vai vento,
Leva embora toda essa poeira
Acumulada encima da cômoda
E não se esquece
Do meu coração,
Deixado sobre a televisão.

Vai de uma vez,
Porque não há doçura no adeus,
Deixa o acaso te guiar,
E me deixa lutar contra minha alma,
Despedaçada e dopada.

Eu perguntei um dia,
Porque você teria de partir,
E você me respondeu:
“Porque o tempo não é meu”
Agora eu vejo,
O tempo era meu.

E eu falhei,
Em contar os segundos,
Porque não era isso,
Não era te amando que eu havia de lhe ter,
Era odiando a mim,
Esquecendo meus planos,
E escondendo no armário meu choro.

Vai vento,
Me esqueces com a sinfonia
De um adeus sobre o luar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Fases.

Silêncio,
Muro no meio da sala,
Terno na gaveta do banheiro,
Dia de sol, janela fechada.

Parecem tão distantes,
As meias ímpares,
De cada lado da cama.

Querer,
Mesa vazia de amor,
Pasta cheia de preocupação,
Computador lotado de tempo perdido.

Parecem tão distantes,
Os corpos ímpares,
De cada lado da cama.

Poesia e Ponto.


Poesia é imensidão
Não se cria, se concebe,
É o dom de encontrar beleza
Em qualquer tom,
Pois o verso do poeta,
É o mundo condensado,
Traduzido em sedução.

Poesia é um meio,
De se encontrar com a própria alma,
E dela retirar vivências não vividas,
Transformando-as em versos livres,
Prontos para voar,
Sem ponto ou vírgula,
Sem destino ou perdição.

Poesia não é rima,
Não é métrica e nem tão pouco solidão,
Poesia é a arte de encantar a palavra,
Saborear a alma,
E saciar o coração.


sábado, 1 de setembro de 2007

Cinza

Outra tarde, melancolia bate á porta:
Entra – Respondo eu,
Já és da casa,
Senta na poltrona.
Entrego-lhe um chá de incertezas,
E no calor da lareira,
Alimentado pela solidão,
Começo a contar meus medos.

-Como é assim melancolia,
Não posso entender,
Porque posso de certa forma,
Apreciar as folhas caindo,
Sentado nessa poltrona desgraçada,
E corroída pelas traças,
Coloridas de verde e cinza.

-Não é assim, ela me responde,
Toma-te este meu título,
Não consigo pensar como posso,
Afetar-te mais;
Dessas conversas doidas,
E de todas essas tardes nubladas,
Quase que me perco sem querer,
Imerso em teu próprio pesar.

E assim melancolia sai á porta,
Deixando pra trás um velho guarda-chuva
Manchado de lágrimas frias,
Como um diário, de todas as tardes,
Noites, Manhãs, Madrugadas,
Que presenciou imparcial.
Hoje ela se deixa por mim,
E sem olhar pra trás, me transforma,
Em solidão.